Você provavelmente já ouviu também. Sabe Clint Eastwood, do Gorillaz, ou Thank You, da Dido? Essas duas faixas têm uma forte influência do gênero, direta ou indiretamente.
O Trip-Hop tem sua origem no final dos anos 80, em Bristol, na Inglaterra, e, ao contrário do Hip-Hop, é extremamente etéreo, introspectivo, abstrato. Soa melancólico, mas também beira a sensualidade, em equilíbrio, como se cada faixa fosse esse mix de 49%/51% alternando, com letras fortes, na maioria das vezes cantadas de forma sussurrada, e baterias simples que grudam na sua cabeça mesmo sem querer. Às vezes, me pego tentando cantar a bateria de “Teardrop“, do Massive Attack, fazendo meio que um beatbox da vida, kick e snare.
Minha maior obsessão dos últimos tempos é o grupo britânico Massive Attack. O álbum Mezzanine (1998) da banda foi meu ponto de partida e, não muito tempo depois, garanti minha cópia do CD e ouvi praticamente todas as faixas no repeat: Angel, Man Next Door, Black Milk, Exchange. Esse disco não tem nada fora do lugar; tudo é muito coeso, e as participações de Elizabeth Fraser e Horace Andy são a cereja do bolo.
No exato momento em que escrevo, acabo de descobrir o álbum Blue Lines (1991), também da banda, e sinto que o ciclo acima vai se repetir.
Outro álbum precursor do gênero é Dummy (1994), da banda também britânica Portishead, uma verdadeira aula de scratching e sampling. A faixa Glory Box, por exemplo, compartilha o mesmo sample de Jorge da Capadócia, do Racionais MCs.
Um artista que conheci recentemente e que usa samples de um jeito bem único é o DJ Shadow. Com baterias bem comprimidas e picotes (chops), o álbum Endtroducing….. (1995) adiciona uma camada de complexidade e experimentação ao gênero. Pode até parecer estranho no primeiro contato, mas realmente te faz questionar o que vem em seguida. Cada faixa é uma boa surpresa.
O Trip-Hop está muito presente em jogos e filmes da cultura pop. O DJ Shadow, por exemplo, compôs a faixa Six Days, presente na abertura do filme Velozes & Furiosos: Desafio em Tóquio (2006). Em Matrix (1999), também há uma cena, nos primeiros minutos, em que Neo recebe uma mensagem na tela de seu computador, enquanto em seus fones toca Dissolved Girl, do Massive Attack.
Nas trilhas de Akira Yamaoka, na série de jogos Silent Hill, o músico e compositor usa e abusa do gênero, aliado ao alt-rock, para compor a atmosfera dos jogos. O único que joguei foi Silent Hill 2 (2001), mas, diante de outros jogos do gênero Survival Horror, a imersão e a trilha sonora são um diferencial.
“Em meus sonhos inquietos,
Eu vejo esta cidade
Silent Hill
Você prometeu que me
Levaria para lá de novo algum dia
Mas você nunca levou”
Em Silent Hill 2, você é James Sunderland e vai para a cidade de Silent Hill, uma cidade abandonada e envolta em névoas. Após receber uma carta de Mary, sua esposa falecida há cerca de 3 anos, vítima de uma doença terminal, dizendo que o esperava em um lugar especial para os dois, ele, confuso, resolve investigar o mistério por trás da carta.
No jogo, é perfeitamente normal se sentir perdido. Não há uma linearidade bem definida, você quase não vê nada por conta das névoas e precisa encontrar o caminho pelas placas das ruas ou por mapas escondidos nos lugares mais diversos. É comum encontrar uma chave ou um item aleatório, não perceber sua utilidade, não avançar no jogo e, depois, voltar todo o caminho para perceber que aquela porta que você deixou passar talvez fosse essencial.
Ao contrário de outros jogos do gênero, ali as coisas são mais imersivas, como se você realmente fosse uma pessoa despreparada para lidar com as situações que te esperam. Muitas vezes, fornecem armas e você não sabe como usar ou não há munição suficiente, diferente de Resident Evil, por exemplo, onde você é um agente treinado para lidar com um vírus específico. Além disso, a profundidade da história é um diferencial, abordando temas como abusos, culpa, luto e traumas.
Há um tempo, anunciaram um remake do jogo, e Akira Yamaoka refez toda a trilha sonora — um desafio enorme, considerando o impacto da versão original. O lançamento está marcado para o dia 8 de outubro, e eu estou bastante ansioso para conferir!
É uma pena que o Trip-Hop não tenha caído tanto no gosto dos artistas brasileiros, mas é inegável que sua influência na cultura pop foi fundamental. Ele moldou trilhas sonoras, videoclipes e vários outros aspectos de gêneros que também flertam com atmosferas dramáticas e introspectivas, muitas vezes escondido, mas sempre presente.
Até mais!
Ernesto J.
P.S.: Aqui no Brasil, a “Céu“ lançou um álbum com bastante influência do trip-hop, o “Tropix”, lançado em 2016 e que recebeu o Grammy Latino de Melhor Álbum de Pop Contemporâneo Brasileiro e Melhor Engenharia de Gravação, destaque pra faixa “Camadas” que tá na minha playlist faz um bom tempo.
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