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“Se quiser livro, não vai ganhar sorvete.”

Dizem que o primeiro livro a gente nunca esquece. Pois eu esqueci. Mas me lembro do primeiro encanto, o que é diferente de simplesmente “o primeiro livro”.

Meu primeiro encantado literário e provavelmente o livro que me tornou leitora foi Feliz Ano Velho de Marcelo Rubens Paiva. Eu tinha 12 ou 13 anos e descobri esse livro sozinha, na biblioteca da minha escola. Digo que, mais importante do que o primeiro livro, é o livro que te faz gostar de ler.

Na minha escola (pública) não tinha esse lance de leitura obrigatória dada pelos professores, o interesse teria que vir genuinamente de mim ou de incentivo familiar.  Ninguém na minha família era leitor, mas o meu interesse por livros veio cedo.

Desde muito pequena eu gostava de folhear livros, mesmo que fosse só para ver as imagens dos livros infantis, que eu tinha pouquíssimo acesso. Bom, para ter uma ideia, a primeira vez que entrei em uma livraria eu já era adolescente. Quando de fato descobri todo esse universo, meus pais nunca me negaram um livro.

Hoje, como dona de uma livraria, vejo episódios lamentáveis de pais negando livros para suas crianças. Há um tempo, uma criança de uns 5 anos agarrou um livrinho e a mãe falou: “se quiser livro, não vai ganhar sorvete”. Isso ecoa na minha cabeça até hoje. É claro que a criança escolheu sorvete, e eu não julgo; que criança não gosta de sorvete?

Mas a mãe, em vez de alimentar o interesse do pequeno, faz questão de cortar qualquer interação que ele pudesse ter com um livro.

Essa sou eu com o Almanaque Disney

Feliz Ano Velho não é um livro infanto-juvenil. Talvez, se naquela época houvesse uma fiscalização mais rígida da faixa etária permitida para leitura, eu não teria lido essa obra. Lembro que peguei emprestado da biblioteca umas 4 vezes e depois comprei um exemplar antigo no sebo.

Esse livro é uma autobiografia, publicado em 1982, que conta de forma bem-humorada e muito direta o episódio em que Marcelo, aos 20 anos, em 1979, mergulhou em um lago raso e sofreu uma fratura na coluna cervical. Além de tratar de toda a questão de ter que conviver com a deficiência física, aborda temas como sexualidade, superação, traumas e a política do Brasil durante a ditadura militar. Aliás, Marcelo é filho de Rubens Paiva, político torturado e morto na ditadura. Se pensarmos que o acidente de Marcelo aconteceu em 1979 e o seu pai assassinado em 1971, tudo acontecendo em um curto espaço de tempo, imagina o impacto na vida dele, sendo um jovem adulto. Não é à toa que esse livro foi tão importante na minha vida e na minha formação como leitora.

Aproveitando o momento, não poderia deixar de mencionar o livro Ainda estou aqui, que ganhou uma adaptação cinematográfica que tem no elenco nada mais e nada menos que Fernanda Montenegro, Fernanda Torres e Selton Mello. O filme ganhou o prêmio de melhor roteiro no Festival de Veneza. Nessa história conhecemos melhor a mãe do Marcelo, Eunice Paiva, que passou 40 anos procurando a verdade sobre a morte do seu marido.

Eu particularmente estou ansiosa para assistir o longa. Ainda não tem data para estreia nos cinemas, mas como se trata de uma produção original Globoplay é provável que chegue ao catálogo do streaming após a exibição nos cinemas nacionais. E o livro que dá nome ao filme, está sendo reimpresso e deve chegar nas livrarias ainda esse mês.

Que tal começar a ler um desses livros sensacionais?

Vamos apoiar a literatura e o cinema nacional.

Te vejo em breve, combinado?

Bjs,

Grazi.


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