Isso mesmo. Colunista.
Pra falar a verdade eu nunca imaginei que um dia teria uma coluna, além da minha que já me traz dores. Pra falar a verdade mesmo, eu nunca imaginei quase tudo o que aconteceria na minha vida. Mas não quero falar sobre a parte chata da vida que é a dor nas costas, muito menos quero falar sobre a vida, aqui vou falar sobre o que deixa a vida mais legal: a música!
Meados dos anos 2000, por volta dos meus breves 10 anos de idade, consigo me lembrar dos primeiros contatos íntimos com a música. Tive a felicidade de ter um tio ficcionado por música, que além de bancário, como eu também fui, era DJ, como hoje também sou. Tudo acontecia dentro de um “JK” (uma espécie de kitnet não tão pequena) na Cidade Baixa em Porto Alegre/RS, com uma coleção imensa de CD’s (numerados na capa) e DVD’s que juntos serviam de papel de parede e moldura para um sound-system de primeira qualidade que ficava na sala.
“Este é o prédio que está lá até hoje, na esquina da Lima e Silva com a Sofia Veloso, diferente do Peruca, o porteiro. Esse já se foi…“
Porto Alegre, Cidade Baixa, anos 2000.
Eu não ia falar sobre a vida mas sou filho único de pai e mãe separados e meu tio, por livre e espontânea vontade, me buscava praticamente todas as semanas para passar uns dias dentro da coleçã… quer dizer: dentro da casa dele. Meu tio gostava muito do que chamamos hoje de rolê [na verdade, Zizi Possi já cantava: “Dê Um Rolê” em 1984], e o que isso tem a ver com o texto que não ia falar sobre a vida?
Pois bem, tem tudo a ver. Hoje eu coleciono mídias físicas, assim como ele ainda faz, e assim como ele tinha, eu tenho cíumes imensos da minha. Mas ciúmes nenhum iria parar um garoto de 10 anos, sozinho em casa cercado de CD’s e DVD’s com capas coloridas e encartes descolados, e mesmo que você nem esteja se perguntando: sim, enquanto ele saia para o rolê, jogar bola com os amigos ou paquerar na noite Porto-Alegrense, eu machucava os dedos de tanto abrir e fechar box de DVD’s. Tenho a lembrança de estar assitindo em DVD o “The Corrs Unplugged – 1999”, enquanto ouvia “RHCP Californication – 1999” num discman e folheava o encarte do Rush Live in Rio sentado numa poltrona super bacana. Este trio de mídias, que eu costumava percorrer ao mesmo tempo teve inúmeras combinações: de Kiss a Funk Como Le Gusta, Claudio Zoli a Lighthouse Family, passando por bandas independentes que nem recordo o nome, do nacional ao internacional, do rock à bossa nova, ele tinha tudo e eu ouvia tudo. Só tinha uma coisa que eu não podia fazer: guardar as mídias nas caixas erradas.
Isso é só um recorte do meu relacionamento com aquilo que não pode ser tocado, só escutado. Lembro das viagens, discotecando no CD-Player do carro, com a curadoria dele, é claro: “-bota essa. -agora bota a faixa 3 daquele com a capa amarela ali!” e dos verões em Balneário Camboriú, furando os CD’s que ele gravava no Rio Grande do Sul para ir passar as férias com ele em Santa Catarina. Música, música, música, se meu tio estivesse em algum lugar, naquele lugar teria música. Enquanto eu escrevo, ele deve estar ouvindo música.
E porque estou falando tudo isso? Bom, a partir de hoje voltarei outras vezes aqui para falar sobre música, ao mesmo tempo precisava me apresentar, relacionar uma coisa com a outra e escrever pela primeira vez.
Agora com o texto pronto, vou me apresentar: me chamo Eduardo, tenho 33 anos, sou publicitário e gosto de música. Inclusive: “Música… muito obrigado por deixar os momentos com meu tio, mais legais do que já seriam.“
Posso indicar um disco? Vou fazer isso sempre! Para manter o assunto Meu Tio, indico o primeiro CD que ele me deu no dia 02 de abril do ano do lançamento: Ultramen – “O Incrível Caso Da Música Que Encolheu E Outras Histórias” (2002).
Procurem saber, ouçam baixo, ouçam alto, ouçam música!
Valeu, gente! Valeu, Tio Juliano.
Edu B.
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